Não tiveste a fama lustrosa do Zorbas, de Luís Sepúlveda, nem do Mago, de Miguel Torga. Fama contida em páginas de prosa que nunca se alastrou ao concreto e ao absoluto. Sim. Eram eles que, agora, como eu, te deviam estar a invejar a liberdade e a condoer-se de te teres ido.
Cúmplices, gostávamos um do outro. Eu a sonhar a tua liberdade ingénita e tu a procurar o calor consciente dos meus sentidos, foste sempre mais dona de mim que eu de ti.
Hoje já não me saíste ao caminho, enfeitada de ziguezagues ronronantes. O lombo ufano muito arqueado a roçar-se, pantomineiro, é uma miragem a azedar-me a tristeza, como o leite que ainda azeda pacientemente à tua espera no teu prato.
Morreste-me. E é como se no sítio onde te deixei, amortalhada na manta de retalhos onde gozavas, consolada, as horas buliçosas de ócio e de preguiça, tivesse enterrado a caução morta da minha liberdade viva.