As casas abandonadas da vila lembram-me retratos antigos. Olho para elas a apagar-se, gastas nos cantos, os vidros baços, os telhados cabisbaixos, e consigo ver lá dentro vidas, gente, pais, mães, avós lavando a loiça, crianças decorando a tabuada, barulhos, brilhos, movimento. Fantasmas de cimento sustendo a respiração, à espera que, por fim, o esquecimento os mergulhe de vez na paisagem precária de nós mesmos. Ruínas tímidas desalojadas do Futuro quando lhes demolimos o Passado.