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2014 em revista

30/12/2014

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Senhor Nicolau – conto de Natal

24/12/2014

«Mucha magia y mucha suerte tienen los niños que consiguen ser niños.»

Eduardo Galeano

É impossível adivinhar o que teria acontecido se não fosse o senhor Nicolau. Durante um tempo indefinido, o velhinho de olhos de berlinde e barba fina e grisalha como teias de aranha desfeitas foi o único contacto diário que as crianças do instituto mantiveram com o mundo dos adultos.

Antes, as crianças podiam brincar na rua. Eram livres como os pássaros cujas melodias frutificavam nos ramos das árvores. O senhor Nicolau passava por elas e via-as. Achava que não existia mais nada no mundo a torná-lo tão belo. Mas depois veio a grande catástrofe, veio a enorme crise, e, atrás, um Governo chefiado por um homem tão gordo, tão feio e tão malvado quanto os fatídicos acontecimentos que o levaram ao poder.

O ditador era um homem que andava sobre duas pernas, mas pensava como se tivesse quatro patas. Era extraordinariamente alto. Dava a ideia de que, se quisesse, podia aquecer as mãos nas estrelas e lavar os dentes com pedaços de nuvens. E, no entanto, ele não se preocupava com isso. Não havia tempo para a higiene dos poetas. Tinha mais que fazer. A sua missão era pôr as contas do país em dia. Mesmo assim, apenas pela dádiva genética da verticalidade fora do comum, poderia ser considerado um homem à altura das circunstâncias. Embora fosse impensável que coisas tão altas coubessem no interior de um espírito tão baixo, o ego do ditador era maior do que ele. Por essa razão, e por um complexo semântico que o chamava aos tempos de escola e aos sucessivos erros ortográficos que contraía nos ditados, o chefe do Governo suprimiu dos dicionários a palavra ditador. Um orgulho tão ridículo quanto ilimitado levou-o a autodenominar-se de outra forma. A partir de então, junto do povo seria conhecido como o “Dono disto tudo”.

Quando o Dono disto tudo tomou as rédeas do poder, foi criada, entre outros organismos de repressão, uma espécie de polícia de afectos, com fardas fosforescentes: os mordaças. As pessoas conheciam-nos por “caçadores de sorrisos”. Tinham medo deles. Debaixo da longa gabardina, os mordaças usavam cassetete, pistola de 9 mm, uma mala para trocos e um terminal do multibanco a tiracolo. A tirana função desta polícia era a de cobrar impostos por cada sorriso, por cada beijo e por cada abraço. Rapidamente, as ruas foram-se enchendo desses homens sem rosto, caras de pau, auxiliados por letreiros de luzes vermelhas, intermitentes, junto aos sinais de trânsito, a dizer:

“SORRIA, ESTÁ A FORTALECER O ESTADO!”

Ou então:

” NÃO HÁ AMOR COMO O PRIMEIRO. AMAI-VOS UNS AOS OUTROS, POR AMOR À PÁTRIA!”

E, até:

“BEIJE, A BEM DA NAÇÃO.”

Não havia limites de idades. Não havia diferenciações por motivos de sexo ou crenças religiosas. Todos pagavam a boa disposição. O mais leve indício de vírgula alegre a ondular nos lábios obrigava o seu portador a abrir a carteira.

No princípio, os mordaças angariavam somas gigantescas de dinheiro junto das famílias em que existiam mulheres grávidas. O acto de amor não declarado gerava uma nova vida, mas representava uma despudorada fuga aos impostos. Sentimentos paralelos ao amor pátrio não eram permitidos pelo Dono disto tudo. Previam-se multas severas para aqueles que despeitassem a lei. Quem quisesse ter filhos, só poderia fazê-lo depois de uma autorização especial do governo, conseguida a peso de pedras e metais preciosos. O governo justificava a cobrança do imposto pela “suprema necessidade de promover políticas sustentáveis de fomento à natalidade“.

Foi assim que, lágrima a lágrima, gargalhada a gargalhada, o choro dos bebés e o riso das crianças se foi apagando das ruas como um esquecimento prolongado. O barulho concêntrico de pedradas num charco vindo de dentro dos beijos afundava-se no medo e na pobreza de homens e mulheres.

Para compensar a crescente diminuição de dividendos por imposto de gravidez, os mordaças endureceram os rostos. Tornaram-se mais sensíveis na avaliação do riso. Alguns deles aproveitavam-se dos desgostos. Havia quem chorasse de tristeza e tivesse de pagar como se estivesse a chorar a rir.

– O choro é uma emoção de dois sentidos. Nunca se sabe… – diziam aos incautos que gizavam um tímido protesto.

As pessoas foram-se tornando cada vez mais inexpressivas. Já nada as distinguia de um boneco ostentando roupas nas montras das lojas. Por dentro, os corações permaneciam vivos. Por fora, imitavam a indiferença.

A partir de então, homens e mulheres começaram a sentir às escondidas. Nunca o silêncio dos olhos tinha falado tanto, sorrido tanto, beijado tanto. O magnetismo delicado do olhar permanecia imperceptível à sensibilidade bruta dos caçadores de sorrisos.

O senhor Nicolau era um dos mais bem-sucedidos na arte de enganar os mordaças. Na pequena vila onde vivia, um lugar montanhoso, perdido nos pontos cardeais da indiferença, sem sul nem norte, sem oeste nem este, localizada apenas por coordenadas indecisas, a presença dos mordaças fez sentir mais depressa os seus efeitos. Havia muito que não se ouvia a gargalhada de uma criança. Com uma excepção: o espaço onde a poesia, a pintura, a música, a dança e a representação existiam atrás do pano escuro da clandestinidade. Esse lugar especial tinha um nome: Instituto da Criança Feliz. Afundados no desespero, com medo dos mordaças, sem dinheiro para pagar os impostos, foram muitos os pais que entregaram os filhos à delicadeza daquele lugar cheio de sol, de flores e de Primavera.

O instituto tinha sido criado com o objectivo de preparar as crianças para um futuro sem pieguices, capacitando-as para seguir o exemplo de coragem do líder do governo. Homem por quem o Dono disto tudo nutria alguma simpatia, o senhor Nicolau foi nomeado primeiro director do instituto, não por outros atributos especiais, mas pela experiência acumulada na loja de brinquedos em tempos frequentada pelo chefe do Governo. A postura discreta do velho fazia assentar todas as poeiras de desconfiança que se pudessem levantar em relação às actividades artísticas promovidas no instituto. Ninguém tinha sonhos suficientemente inseguros para levantar suspeitas sobre o senhor Nicolau.

Ao contrário do Governo, o senhor Nicolau tratava as crianças do instituto como gente. Como filhos. Como humanidade. Dava-lhes conselhos. Ensinava-as a viver de acordo com a sua essência. Repetia, sem que elas entendessem o significado redondo das suas palavras:

– Um homem vê melhor os caminhos que pisa se fechar os olhos. O melhor espelho dos seus erros são as falências do homem que tem à sua frente. A cegueira maior é não saber olhar para dentro.

Mesmo sem entender, as crianças riam, numa espécie de assentimento. Gostavam mais quando o senhor Nicolau lhes falava numa linguagem infantil, como se as coisas e as sensações trocassem de roupa. Como na ocasião em que explicava a uma menina de que matéria era feita a sombra:

– A sombra é a nossa altura deitada, quando somos vistos a partir do sol.

O senhor Nicolau manuseava as palavras com o dom da plasticina. As ideias que nelas sopravam vinham carregadas de vento fresco. Inspiravam-se melhor do que os programas de domingo, gravados num estúdio enquadrado por um cenário feito de trevas. Uma lei obrigava a manter a televisão ligada ao canal do Estado durante as tardes do primeiro dia da semana. Do lado de dentro desse sólido geométrico, ondas hertzianas mostravam o contorno de uma mulher muito séria, com pele de múmia. Cara de dor de dentes. Os olhos duros. Secos. Muito abertos. Não apagavam. Não acendiam. Brilho ausente. A funcionária do regime declamava discursos redigidos pelo Dono disto tudo. A voz arrastada. Eram discursos tautológicos, enfadonhos. Vinham vergados ao cansaço das frases intermináveis. Acabavam com as conclusões repetidas de um beco sem saída. Nessas alturas, o senhor Nicolau colocava um pano preto sobre a televisão. As crianças viravam as costas à mulher horrorosa, pegavam nas guitarras que o senhor Nicolau mantinha escondidas nas traseiras da oficina do instituto e tocavam músicas proibidas. Tão alto que a entoação monocórdica da mulher parecia cantar com elas.

A música evolava-se pelo ar. Colava-se à pele, como transpiração. No final dos ensaios, o senhor Nicolau fazia uma vénia às crianças. Depois, virava-se de frente para a televisão, retirava o pano que a cobria, apontava para a mulher insofrida e dizia, deliciado, como se acabasse de engolir o último pedaço de um fruto raro:

– Caramba! Nunca conheci ninguém que cantasse tão bem.

As crianças riam alto. Um coro de passarinhos a chilrear. Lá dentro, podiam fazê-lo. As paredes do instituto eram espessas, à prova de reflexo e de som. Os vidros, vaporizados por fumo, não deixam ver para dentro.

Quando brincavam no recreio, as crianças gostavam de observar à sua volta. Olhavam atentamente a monotonia e a tristeza desfilando nas ruas.  Por vezes, o senhor Nicolau juntava-se aos meninos e meninas. Assentava-lhes a mão muito usada sobre as cabeças peludas e ouvia-as confessar umas às outras, enquanto apontavam com saudade, como se ele não estivesse junto delas:

– Como éramos felizes ali.

– Que moles são as cores por detrás deste silêncio.

As crianças adoravam o ar livre, durante a noite. Gostavam do pátio. Do campo de jogos. Jogavam e corriam. Divertiam-se por turnos. Algumas dormiam. Outras, mimetizadas no escuro, ocultadas pelo recolher obrigatório, saíam do instituto, enfrentando a solidão das ruas. Levavam pequenos bilhetes com elas. Colocavam-nos nas frestas das portas. Nas caixas de correio. Nos para-brisas dos carros. Essas pequenas missivas carregavam consigo palavras de autores conhecidos, que as crianças estudavam durante o dia. Era, sobretudo, literatura proibida pelo Dono disto tudo, sob o pretexto de «dispersar o pensamento das pessoas». Segundo as autoridades culturais, era fundamental que a arte versasse sobre o rigor útil dos factos. Apenas o real podia ser criado.

– O fim último da arte deve ser a riqueza das empresas. – dissera o Dono disto tudo, escondido atrás de um timbre feminino, num dos discursos reproduzidos nas matinés sonolentas de domingo.

Um grupo constituído por crianças com idades agarradas à adolescência atravessava maiores riscos na difícil tarefa de espalhar mensagens de esperança. Transportando baldes de tintas multicores tirados à oficina do senhor Nicolau, resolviam adulterar algumas das mensagens do regime escritas nas ruas. Para isso, pintavam os muros da vila com o arco-íris da poesia proibida. Então, os muros transformavam-se em fortalezas de liberdade. O Dono disto tudo lia esses poemas como se fossem textos de devassa à integridade racional da nação.

No largo principal, na face mais visível de um muro, o dia soletrava a propaganda do Estado:

“NA PÁTRIA OCIDENTAL, O VELHO É NOVO.

O POVO SABE QUE O TRABALHO LIBERTA E FAZ SORRIR”.

A mão jovem da noite corrigiu, devolvendo às artérias da cidade um halo rasurado de verdade digna e pura:

COMUNICADO

NA FRENTE OCIDENTAL NADA DE NOVO.

O POVO

CONTINUA A RESISTIR.

SEM NINGUÉM QUE LHE VALHA,

GEME E TRABALHA

ATÉ CAIR.”

MIGUEL TORGA

Nos dias seguintes, ao ser informado do acontecimento, o iracundo Dono disto tudo decretou uma apertada caça ao homem.

– Esse subversivo desse engraçadinho deve ser exemplarmente condenado! – ordenou a babar um visco enraivecido pelos queixos abaixo. – Falem com os jornais. Eles que lhe descubram qualquer coisa pessoal. Uma dívida por pagar aos nossos cofres. Um podre basta! Temos de achincalhá-lo enquanto prosseguem as buscas.

Mesmo sabendo que o poeta já tinha morrido há muito, os verdugos ao serviço do Dono disto tudo cumpriram a ordem diligentemente. Depois de remunerados, os jornais iludidos pelas mentiras do Dono disto tudo fizeram o resto, com fotografias, enredos improváveis e datas inventadas. Miguel Torga, nunca seria encontrado, a não ser nos bilhetes deixados pelas crianças.

Movido pelo mesmo descontrolo, o Dono disto tudo mandou pintar de negro o mural onde tinham sido escritas as palavras líricas. Sobre essa página sem horizonte e sem margens, impôs que se escrevesse, a gordo, a branco:

É PROIBIDO ESCREVER NAS PAREDES. OS TRANSGRESSORES SERÃO SEVERAMENTE PUNIDOS.

Uma manhã depois, os elos de luz nascidos no primeiro rasgão do sol pagaram-lhe na seguinte moeda:

É PROIBIDO PROIBIR! OS DITADORES SERÃO CERTAMENTE DESTITUÍDOS.

Tinham sido as crianças.

Quando tudo começou, o senhor Nicolau sabia tanto como o Dono disto tudo. Não imaginava. Era incapaz de tecer suspeitas. As crianças principiaram aquelas atividades noturnas sem o seu conhecimento. Depois, quando o senhor Nicolau descobriu e viu a olhos vistos, as crianças continuaram a sair, desprovidas do seu consentimento. Mais tarde, ao aperceber-se da força incontrolável do futuro, o senhor Nicolau assumiu a responsabilidade de planear todas as missões com a minúcia de um relojoeiro.

Após o episódio do poema, as investidas das crianças do instituto pelas ruas da noite foram perdendo força. As autoridades tinham espalhado mais olhos vigilantes pelas arestas da vila. Por engano, foram detidos e sumariamente condenados dois vagabundos analfabetos, com livros na sua posse. Clássicos da literatura que lhes serviam de almofadas na hora de encostar a cabeça e que, no máximo, só lhes garantiam melhores sonhos, dissera um deles ao mordaça que os algemou.

Uma corrente de medo retinha as crianças dentro das fronteiras do instituto. Nessa altura, o Instituto da Criança Feliz excedera em muito a sua capacidade. As crianças viviam cada vez mais apertadas, como cotonetes numa caixa. A vontade de brincar na rua era um desejo cada vez mais incontrolável. Era a única saída. Quando o senhor Nicolau albergou na oficina do instituto, por falta de espaço nas camaratas, um casal de palhaços, as crianças ficaram proibidas de sair.

As crianças insistiam. Queriam ir para as ruas. Para as azinhagas. Para os becos. Era importante continuar a acordar as consciências.

– Lembrem-se do Dom Quixote, meninos: «o medo tem muitos olhos!»

A profissão de palhaço era das mais perseguidas pelos mordaças. Também ganhavam a vida incitando o riso, e, por essa razão, os caçadores de sorrisos achavam-se no direito de possuir um palhaço de estimação. Traziam-nos puxados por uma trela, como um cão de raça. Obrigavam-nos a dizer piadas, a contar anedotas e a fazer números engraçados. Sempre que os palhaços se recusavam a essas imposturas, ou nas ocasiões em que se encolhiam de cansaço, os mordaças mostravam-lhes o seu apreço com bordoadas de transformar um corpo num saco de ossos quebrados. Do lado de dentro do instituto, as crianças viam isto e ficavam ensimesmadas. Algumas choravam com pena.

Os dois palhaços alojados na oficina eram amigos do senhor Nicolau. Tinham trabalhado em circos de todo o mundo, mas as saudades de casa e o desejo de prolongar os genes artísticos por mais uma geração trouxeram-nos de volta ao país. Um dia antes da catástrofe, tinham feito uma das mais esplêndidas atuações de que se lembravam. Palmas e aclamações. No dia seguinte, o circo destruído. Ela, grávida. Não tinham para onde ir. Tentaram os espectáculos de rua, antes do Dono disto tudo ter tomado o poder. Depois, quando as perseguições aos palhaços se iniciaram, não sobrou alternativa, senão a de andarem fugidos aos caçadores de sorrisos, disfarçados por entre o povo, para não serem reconhecidos. Até que, por fim, o homem e a mulher conseguiram algum conforto na oficina do Instituto da Criança Feliz. A criança poderia nascer em paz, dali a dias.

Certa madrugada de inverno áspero, um frio afiado, difícil de suportar, num ato de revel para com as determinações do senhor Nicolau, as crianças do instituto pegaram em todos os poemas que tinham transcrito desde a última vez, e saíram à rua. O diretor do instituto apercebeu-se demasiado tarde, já todos os meninos percorriam as artérias da vila, como um rio pulsante, torrencial, incontrolável. Sem se vestir, pijama vermelho e gorro com pompom por cima da cabeça, o senhor Nicolau tentou correr atrás delas. Chamá-las-ia à razão uma a uma. Porém, no instante em que atravessava a porta principal do instituto na esperança de tentar demovê-las, o velho sentiu uma mão firme como um aguaceiro assentar sobre o seu ombro enchumaçado. Era um dos palhaços escondidos na oficina.

– Rebentaram as águas. Ajuda-me! Vai nascer agora! Isto não é uma piada!

Enquanto o sol gelado da madrugada dava mostras de iniciar o seu voo baixo, a vila ouviu o choro infante. Atravessou a impermeabilidade de todas as paredes. Vinha do instituto. As crianças ficaram no sítio onde estavam, mimetizando estátuas. Depois, do outro lado da vila, um novo pranto recém-nascido. No centro, outro igual. E outro. E outro. E outro. Entre eles, espalharam-se gargalhadas. Dentro das casas, as luzes acendiam-se. Homens e mulheres saiam à rua de lanternas acesas, empurrando a noite, ajudando o dia a clarear. Declamavam os poemas deixados pelas crianças debaixo da porta. Pais e mães de crianças do instituto. Abraçavam-se e beijavam-se. Faziam o mesmo a esses meninos e meninas sorridentes, pais e mães de filhos por nascer. Algumas pessoas riam, num choro sem medo, de libertação. Incrédulos, os mordaças e a guarda foram envolvidos por essa onda paralisante. Largaram as armas. Atiraram ao lixo os utensílios para cobrança de impostos. Juntaram-se às dezenas e centenas de pessoas que celebravam, a caminho do Instituto da Criança Feliz. As famílias voltavam a ser completas. Era Natal!

Mais tarde, quando o Dono disto tudo não era sequer proprietário de dignidade, obrigado a fugir para parte incerta, e o país era de novo livre, ao lado de uma árvore iluminada de presentes, o senhor Nicolau. A sua mão leve, como se caminhasse sobre águas marinhas, começava a escrever esta legenda no livro de memórias do Instituto da Criança Feliz, sob a fotografia do bebé nascido na oficina:

«Não há profecia mais risonha do que o choro de uma criança. É na voz sem rugas dos jovens que a liberdade se encontra mais madura