O que seria do Avante sem os «electrecestas» iluminados. De facto, não há festa como esta!
Assim se escreve, em bom português.
Fotografia: Avante 2006 – Atalaia, Seixal.
O que seria do Avante sem os «electrecestas» iluminados. De facto, não há festa como esta!
Assim se escreve, em bom português.
Fotografia: Avante 2006 – Atalaia, Seixal.
[Assim antecipo, por um dia, o post que visa homenagear todos os trabalhadores da minha terra, em particular os que atravessam condição socioeconómica delicada].
Alguém me consegue explicar porque é que o supermercado minipreço, localizado na Rua Serpa Pinto, em Monchique, ainda continua aberto?
O cenário, dentro daquele espaço, é altamente confrangedor. Entrei com uma lista de compras, saí moído pelo vazio das prateleiras e com as compras por fazer. Aparenta ter sido, em Monchique, decretado recolher obrigatório, em razão de um furacão (coisa pouco provavel à nossa Longitude), ou de um conflito armado.
Em último e mais provável caso, ter-se-á instalado uma onda de receio face aos previstos efeitos pandémicos da Gripe Suína (Mexicana), e todos, antes de mim, se precaveram para uma possivel quarentena, ceifando as prateleiras de tudo o que ali exisitia, abandonando-as à insignificante companhia dos papéis, agora inúteis, sinalizando os preços de cada coisa .
Prefiro, no entanto, avançar com uma explicação mais elaborada, mais lírica, mais filosófica. Numa palavra, mais confortante. O minipreço, despido de géneros alimentares e outros produtos de primeira necessidade, não é mais que a transposição comercial, para os dias de hoje, da aclamada parábola de Platão, a Alegoria da Caverna.
Quem vai à cafurna em que se converteu o minipreço, terá atingido finalmente o domínio das ideias, libertando-se assim da caverna inusitada que foi este supermercado, ainda nos tempos (há pouco mais de um ano) em que se chamava Sol & Serra, com uma imensidão de coisas tangíveis amontoadas pelas prateleiras, sombras que tomavamos como reais, criadas por artefactos de ilusões.
Estou confuso. Agora, o mundo ilusório e nebuloso das coisas sensíveis, que me fez estourar rios de cêntimos em pizzas, gomas, pacotes de Conguitos e M&M’s xl, ficou derradeiramente para trás. A dialéctica proporcionada pela alegoria da cafurna, fez-me então alcançar:
O pior de tudo, são as pessoas que por ali (ainda?) trabalham, em breve vítimas das ilusões criadas pela ganância de artefactos materiais, priosioneiras duma cafurna sem reflexos chamada desemprego.
Hoje, ao olhar para aqueles seres humanos, lembrei-me da Alegoria da Caverna, mas também do conto de Manuel da Fonseca, Maria Altinha:
«Pareciam Condenados».
Eu não acredito em Gambozinos, mas que os há…
Fotografia: Sitío das Águas Alvas, Monchique.
Ontem comecei com os espirros e, na sequência de um deles, mais violento, fiquei com um torcicolo. Hoje mal consigo virar a cabeça para o lado esquerdo e tenho já alguma congestão nasal. Por precaução, vou evitar comer a chispalhada que a minha mãe preparou para o almoço, não vá isto ser um caso de gripe suína.
De qualquer forma, é possível observar os casos de infecção conhecidos e a sua localização. Basta consultar o mapa da swine flu.
Há dias, findo o trabalho, aproveitei a boleia de um amigo até casa. Chovia e não me apetecia andar a pé, pelo que aquela caridade me caiu como sopa no mel (se bem que, sopa com mel, deve dar uma azia do caraças). Com manobras de perícia pelas tortuosas ruas da parte velha da vila e poças a espirrar àgua para cima dos passeios à passagem da viatura, seguiamos a uma velocidade de bois.
Deu tempo para falar do tempo e do Benfica. Amaldiçoei a incúria de não ter levado carro para o trabalho num dia daqueles, para depois me justificar porque raramente o faço. Em Monchique as distâncias são curtas, pelo que faz bem às algibeiras, à saúde e à alma deslocar-me a pé para o trabalho. Para não falar da escassez de estacionamento e do azar que é chegar ao carro e ver uma assinatura em caligrafia árabe, feita a arame, chave philips ou mesmo de sextavada, cravada na fuselagem do bumblebee.
Rosnei que da próxima vez que investisse num automóvel, compraria um «frigorífico com rodas», que isto dos carros brancos é um mimo, não se nota nada na pintura. E, durante este tempo, cruzámo-nos com alguns carros brancos, aos quais aludi zombando, com pulos e urros descoordenados, pelo facto de se tratarem de «frigoríficos com rodas».
O meu amigalhaço, reagia impávido aos meus sucessivos tiques dementes, coisa que estranhei visto ser, normalmente, um tipo bem disposto. Creio que lhe vi até alguma sofreguidão no rosto, de cada vez que repetia: «olha um frigorifico com rodas…ahahahahahah…sabes o que é aquilo? É um frigorifico com rodas é o que é!»
Foi quando fechava a porta da viatura, depois de ser deixado perto de casa, que me apercebi da cor do automóvel que me havia transportado. Fiquei branco, da cor do leite, da cor do cavalo branco de Napoleão…
(Este post surge com alguns dias de atraso, uma vez que se adequa perfeitamente ao Dia da Terra, assinalado no passado dia 22 de Abril.)
As campanhas de sensibilização ambiental têm sido uma das mais importantes ferramentas ao serviço do paradigma do Desenvolvimento Sustentável, tendo para o efeito, sido adoptados verdadeiros chavões, com o objectivo de alterar comportamentos consumistas e sobremaneira entrópicos.
Na minha rua, por exemplo, está-se na vanguarda da política dos 4 R’s e hoje, quase toda a gente tem já entranhado no ADN ambiental a necessidade de:
1 – Reduzir;
2 – Reutilizar;
3 – Reciclar;
4 – Rebentar com tudo o que é sanita e autoclismo. Agora, junto ao contentor do lixo, a vizinhança dispõe de um Sanitão.
O Sanitão é um espaço dedicado a acolher autoclismos e sanitas velhas, demasiado frágeis ao excessivo peso dos utilizadores, ou rachadas por uma diarreia explosiva, ou ainda arrancadas por um súbito e fulminante enjoo, mal-estar ou ressaca, que nos levam a agarrar a este útil artefacto enquanto auxílio ao esforço de arremesso bocal de conteúdos gástricos, que se distinguem pela frequente tonalidade amarelo-esverdeada.
Depois do vidrão, do papelão, do pilhão e de outros utensílios sabiamente concebidos para a reciclagem de resíduos domésticos acabados no ditongo “ão“, o Sanitão é também uma realidade, permitindo que um artefacto normalmente destinado à higiene doméstica e ao escoamento de restos de sopa azeda, seja agora, enquanto conjunto, um exemplo emblemático da luta pela qualidade ambiental e promoção da saúde pública na minha rua.
As festas de comemoração do 35º aniversário do 25 de Abril, em Monchique, terminaram como alguns esperavam que viessem a terminar: num mar de cacetadas… Apesar de não ter passado de um arrufo mais que insignificante, sem mazelas nem sequelas, estou convencido de que quando se trata de comemorar o que quer que seja em comunidade, a tradição ainda é o que era! E tudo por causa dos “copos”.
Fotografia: Relíquia de louça herdada de avós maternos. Nota: Apesar da qualidade evidente, não se trata de louça produzida pela Bordalo Pinheiro.
No jantar de velada da Revolução dos Cravos, efeméride comemorada a rigor pela minha família desde que me recordo, não resisti à tentação e, por mais uma vez, em mais um ano, voltei a bombardear os meus pais com a singular pegunta cliché de Armando Baptista Bastos, «Onde é que você estava no 25 de Abril?»
Pelo 10º ano consecutivo, mais coisa menos coisa, obtive as seguintes respostas:
O meu pai cumpria serviço militar no Regimento de Cavalaria nº. 8, na cidade de Castelo Branco. Passou o dia a jogar às cartas…A dose terá sido de tal forma enfastiadiça que ainda hoje, apesar duma ou outra taça conquistada em torneios de Três Setes – o jogo emblemático cá da terra – é muito raro vê-lo de cartas na mão. Quando o faz, aguenta pouco mais que 3 partidas seguidas. O enfado das cartas, no 25 de Abril de 1974, terá sido de tal forma excessivo que também eu demonstro uma certa moléstia pelo jogo. Ver-me a disputar uma partida de cartas é tão raro quanto ver um carro de matrícula espanhola sem bola de reboque atrás.
Quanto à minha mãe, costurava fechada em casa. Tentava acompanhar cada passo da revolução ouvindo a emissora nacional pelo transístor, (sem êxito “porque estava sempre a passar a mesma música”), com um medo de pelar que “eles”, os da PIDE, irrompessem casa adentro para a “virem buscar”. Desde esse dia que percebeu com que linhas se havia de coser, e, actualmente, sempre que lhe peço que me costure as bainhas dumas calças, é o cargo dos trabalhos…
Se um dia os meus filhos, ou o António, me perguntarem onde estava eu no dia da Revolução dos Cravos, a resposta óbvia será a de que nessa data ainda não respirava. Porém, se a questão for feita relativamente ao “25 de Abrul” (mês do cravo[?] no calendário chinês) dir-lhes-ei que estava no Largo Camões, em Lisboa, e que até as televisões o provam:
P.S. A intenção, já de si rídicula, de transformar o nome de Salazar em topónimo de rua, inaugurando o espaço ao público no dia 25 de Abril, não lembra sequer ao diabo. A não ser que muitos, tal como eu, tenham assimilado desde tenra idade a ideia de que Salazar e o diabo são a mesma coisa – mais uma vez a minha avó é a grande culpada por pensar que o diabo é tão só a figura do Salazar, de tridente na mão, com cara e maillot pintados de vermelho vivo, dotado de um extenso par de chifres e cauda pontiaguda.
Ainda que esta cerimónia se restrinja à terra natal do ditador da fome e da miséria, só consigo encontrar paralelo na seguinte premissa rocambolesca: inaugurar, por altura do 1º de Dezembro, uma panificadora espanhola numa das naves do Mosteiro de Aljubarrota.
Após término do prazo estipulado por colegas dum município vizinho ao qual estou contratualmente vinculado, teve hoje lugar a reunião em que foi submetido a aprovação o trabalho a mim impingido na semana passada, no âmbito da cooperação prestada a um serviço que reconheço ser de extrema importância.
Invariavelmente, cheguei atrasado. Ao penetrar na sala onde decorria a dita assembleia, apercebi-me que, espalhadas pela mesa redonda (rectangular), existiam placas indicando os lugares a ocupar pelos representantes de cada uma das entidades envolvidas na aprovação do projecto.
Estavam placas a designar os políticos presentes, as forças de segurança, as empresas responsáveis pelas vias de comunicação e pelas infraestruturas de transporte de energia, assim como os técnicos das várias unidades orgânicas do município com o qual colaborei activamente. Fitei a mesa à procura da placa que indicaria o meu lugar no plenário. Nenhuma delas contemplava o meu nome…
Assim vilipendiado, lembrei-me desta história.
Como outra coisa qualquer, que se usa para depois deitar fora, comprar automóvel é tão só uma questão relacionada com modas. Ou será que são os automóveis que escolhem o seu próprio dono, de acordo com o momento e os modos de vida padrão vigentes, como se de mais uma moda se tratasse?
Assim se escreve em bom português.
Fotografia tirada em Olhão, moda sim, moda não…