Posts Tagged ‘Revolução’

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Varadero, Cuba, 24 de Maio de 2013

03/06/2013

A Cuba dos não cubanos. Um solário de areia branca e água choca onde só existe lugar para o rodízio de estrangeiros que aqui chegam em autocarros chineses. A dignidade que o Socialismo cubano tira com uma mão, mas dá com a outra, aqui, o Capitalismo de Estado ceifa com as duas. Não! Nenhum projecto revolucionário caminha de conquista em conquista com pés de barro, voltados para dentro. Todo o Poder que nega ao Homem o único dom que o iguala à nascença, a Liberdade, não é uma Revolução, é uma condenação.

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Toque a rebate

20/03/2013

Na simetria cronológica
Do rectângulo a ocidente
Tudo como antigamente.
No país da arraia-miúda
Nada muda.
Os filhos da revolução
Trabalham em vão
E pagam impostos.
Murchos e de olhos postos
Nos cravos do chão.

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O teatro da Esperança

14/10/2012

Ninguém morre de desespero. Mas perde-se muita vida a desejar feixes de Esperança. É ela o milagre concreto e a seiva do inefável a fluir dentro do instinto de conservação. Mas como encontrar essa sombra sedativa sob os ramos de um país ressequido, com míldio no tutano? Os jornais insinuam desgraças e podridões, as rádios monologam sons de matracas, as televisões mostram apenas vísceras e cadáveres embalsamados. Tudo sintonizado num “morra Sansão e quantos aqui estão!” É o milagre a procrastinar. Nada. Não se vê um estere de tolerância, um borrifozinho de água no deserto intelectual em que vivemos. Que triste chocolateira esta retórica avariada que nos tem conduzido às moradas sociais conhecidas. Em Portugal, é tudo tão teatral, que até a Esperança é obrigada a aguardar as pancadas de Moliére para poder entrar em cena.

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Indignação

16/09/2012

Horas custosas as vividas nos metrónomos sociais do país. A Esperança hipotecada pela traição daqueles a quem diligentemente lha outorgamos. Farto de comer e calar, o povo juntou-se e, dando voz atormentada à consciência colectiva, num caudal de indignação e de revolta, galgou as margens passivas da resignação em vários lugares da pátria. Gritou, protestou, esbracejou, imprecou e respondeu com valores de democracia à perversão das equações econométricas vendidas pela ortodoxia neoliberal como hóstias de salvação. O seno e o cosseno das vontades individuais somadas a medir os mais de oitocentos anos de preservação da nossa identidade soberana. Sobre os cortejos de ontem, que as actas e gráficos existenciais  futuros não digam apenas isto: “o povo varreu a sua testada, arruou a indignação, recolheu à serenidade do lar e, na segunda-feira, foi tratar da vida.”

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Os Mercados

05/11/2010

Daquilo que é genuinamente metafísico já ninguém cuida. Agora conduzem-se as idiossincrasias metafísicas do rebanho à rapacidade esfaimada dos Mercados.

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Ser ou não ser

28/10/2010

Imagem: Capa do Jornal de Negócios 28/10/2010

No meio da situação gravíssima que o país atravessa, ainda há parangonas que, de tão originais e objectivas, conseguem, em poucas palavras, conduzir-nos ao essencial das questões. Sócrates é igual a Passos Coelho, são ambos bois de canga a puxar o carro da lumpemburguesia. É ou não é?

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De vez em quando

17/10/2010

… mas só muito de vez em quando, a comunicação social abre as portas a um debate plural em matérias de economia, de escolhas, de opções, de rumos. Porque, numa sociedade madura e democrática, não há um só caminho inevitável, como fatidicamente defendem os postilhões da pedante ortodoxia neoliberal.

Imagem via chargesbruno.blogspot.com

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Geografia dos “Amaricanos”

10/10/2010

Transviado em alphadesigner.com/project-mapping-stereotypes.html

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Caminhos que arrependem

27/09/2010

É escusado. Um homem que quer ser inteiro, uno, pleno e absoluto em todos os retalhos relativos da esfera Humanista que ambiciona, não se mete na política.

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[H]à tourada

31/08/2010

Um exílio na Natureza em carne viva e, de volta ao aconchego maternal das dobras do xaile da rocha-mãe, isto. Pegas de cernelha à mancheia, apregoadas a cornetim e com cornaduras de varar as entranhas da alma, sempre as houve aqui neste lugar de sienito e xisto tumescidos numa oração sepulcral de penitência aos céus. A mulher do senhor X e o marido da dona Y que desfraldem a ira reprimida nos rubescentes capotes e as contem na primeira pessoa, se quiserem. 

Antes deste tempo de hoje, que sem conhecer os mistérios da puberdade é já um velho, serôdio, lacaio, corcovado sobre si próprio, olhando as unhas dos pés gastos, atafulhados no sarro, Monchique foi o presépio do Mundo, a manjedoura onde o Menino redentor mamou da Mãe o primeiro leite, enrolado na palha renegada do berço e aquecido pelo hálito da vaca no morno sacrifício da existência humana. E quem, seguindo a estrela da miséria, assistia humildemente a este milagre, via uma missa desprovida dos mais sagrados dogmas e rituais, convertido em profeta do mistério da fé na vida harmoniosa entre todos os seres da Terra.

Contou-me há tempos, alguém despido da suspeição dos laços familiares, que um dos meus avôs, que melhor que eu o conheceram os sobreiros e os cálices de aguardente, foi testemunha do milagre, tal qual vem nos Evangelhos. Boi de canga de outros homens como os outros de cornos e mugidos, criador de gado a quem a fortuna só o cobriu de sofrimento, possuía no estábulo o cobridor mais apurado. Não havia na Serra novilho ou vitela que não o tivesse na linhagem.

O resto desta história de honradez e grandiosidade superior, em que os homens da minha terra e o gado bovino se fizeram cúmplices na mesma manada da criação sem o ferrete tolo das pífias lides  de ferro, capotes e bandarilhas, pode ser visto muito brevemente, na minha próxima crónica, no Jornal de Monchique.