Posts Tagged ‘versos’

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Liberdade poética

17/09/2013

Se eu fosse poeta
Todos os dias seriam
Maiores que a imensidão.
Todos eles teriam
Horas vagas a bater no coração.
Não haveria segundas-feiras
Nem as fainas rotineiras
A fazer do tempo prisão.
Nesses dias, abertos e livres,
Tomando as estrelas na palma da mão,
Teria nos sonhos os meus víveres
E seria livre, como os poetas são.

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Promessa

17/09/2013

Começo o poema com Esperança.
Se essa é a ponta da lança
Com que guerreio o dia-a-dia,
A resignação seria
Uma escandalosa traição
À firme condição
De homem natural.
E, por isso, na minha timidez,
Prometo versos de lucidez
Até final.

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Perdição

17/09/2013

Apostei tudo e perdi.
Quis ser o primeiro,
Quis ser o mais verdadeiro
Aos pés dos deuses humanos
Que criei.
Mas apenas ganhei
O prémio dos desenganos
Que arranjei
Nas entrelinhas:
Dores fundas e mesquinhas
Que infligi
E sofri
Como se fossem minhas.

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Paraíso

17/09/2013

No tempo em que fomos felizes
Eu não contava os dias.
Os meus olhos eram raízes
De amor quando sorrias.
Ou quando, simplesmente,
Respiravas e me dizias
Que não regasse a macieira,
Que deixasse a serpente
Viver nela a vida inteira,
Porque nós, que éramos gente,
Seríamos felizes de qualquer maneira.
Mas agora cumprimos penas
Por não ter sabido guardar
Essas horas tão serenas.
Presos a paixões terrenas
Só as podemos provar
A imaginar, apenas.

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Génesis

09/08/2013

Quem foi que nos escreveu
Nas brancas páginas caladas
Que a vida nos concedeu
Quando éramos dois nadas?
Foi quem foi, mas ninguém leu
Nos meus lábios e nos teus
A caligrafia em letras mortas
Onde eras um verso direito de Deus
Escrito nas minhas linhas tortas.

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Mensagem

06/08/2013

Deixar andar o tempo.
Contá-lo é juntar desperdícios.
Sem dar atenção aos indícios,
Vivo o pêndulo de cada instante
Como se estivesse diante
De mim e de Ti
Num baloiço de negação.
A perguntar se estavas aí
E a fingir que não ouvi
O teu silêncio dizer “não”!

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Contemplação

05/08/2013

Espero pacientemente.
Mesmo que me não digas se vens.
É apenas porque sei que tens
A mesma razão intuída
No poder contraditório do amor.
Espero o tempo que for.
Porque até a paixão mais arrefecida
Tem escondida
Uma fonte secreta de calor.

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Percurso

30/07/2013

Ah! Espasmos da inquietação.
Pulsões fortes na razão
Abalada por dúvidas constantes.
Versos cansados e impantes
Como única companhia
Em cada metro de caminho.
Noite e dia, adivinho
Os mesmos sinais de rebeldia
A dizer que vou sozinho.

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Duplo

17/07/2013

Passou uma vida ao meu lado.
Para onde ia, não sei.
Foi tão pouca a atenção que lhe dei,
Que o movimento me pareceu baldado.
E agora, já recordado
Dos ares de desejo
Que esse vulto tinha,
Finalmente, vejo
Que aquela vida era a minha.

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Farrapo

10/07/2013

Visto esta roupa velha
Cheia de amor aos buracos.
Poços sem fundo opacos,
Frestas rasgadas
Nas sombras da idade,
Texturas amarrotadas
De encontro à claridade
Em cada nova ilusão.
Traje de gala no festival
Da solidão,
A vida é a única que me vale
Quanto mais rompo o coração.