De todas as formas com que o poder se prefigura, a única que me fascina verdadeiramente é a de ser usufrutuário do poder da abnegação. Entre tantos dons inatos que trazemos agarrados à vontade, dizer não é aquele em que mais se afirma o inexorável instinto de preservação intrínseco a cada existência livre. No meu caso, é um modo anquilosado de abjuração que, de resto, devo à pia baptismal, e da qual faço uso sempre que me dão a cheirar o perfume inebriante e tirânico do outro poder, o temporal, que tudo deforma, tudo perverte, tudo corrompe. É como se respondesse ainda à interpelação do Padre Ferro, ungido pelo santo óleo dos catecúmenos da liberdade, limpo do pecado original:
– Renuncias a Satanás e a todos os seus anjos?
– Sim, renuncio!