Posts Tagged ‘Bad Religion’

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Let’s make a toast

18/05/2010

Nesta vida triste que era a nossa caso não existisse música a adubá-la, quantas bandas chegam à marca de 60 equinócios e 60 solstícios, que é como quem diz uma das 4 estações do ano 30 vezes repetida, brindando [com] os fãs  através do download completamente gratuito de um álbum composto pelos maiores êxitos da banda, cantados ao vivo, ali mesmo, a cortar as curvas sinuosas de uma carreira invejável que é hoje referência no punk rock?

Imagem: Bad Religion

São trinta anos de Bad Religion numa longa estrada, na qual  me orgulho de ter peregrinado e feito profissão de fé.

21st century digital boys de todo o Mundo, uni-vos!

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The new dark ages

02/01/2010

Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos (Charles Dickens). Está arrumado e, em breve, inutilmente esquecido o ferrete malsão que cunhou a outra face da moeda no ano de 2009. Em jeito de usurpação, esta é a profética mensagem de boas-vindas ao Ano Novo (e seguintes), aqui do corifeu do Terra Ruim.

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Bad Religion e ExtreMusika 2009

21/04/2009

Nota Zero ao festival; 20 aos Bad Religion.

O mau tempo que se fez sentir no Sábado passado, na região da Extremadura espanhola, não explica tudo relativamente à má qualidade do ExtreMusika 2009. Um espaço especificamente concebido para eventos do género não pode registar tantas falhas, nem revelar tanto amadorismo, quando se conseguem trazer bandas de renome internacional e se cobra 75€ a cada visitante.

Caliqueira de Lata: Lama, chuva e frio. As más condições atmosféricas fizeram do recinto um autêntico pântano e deixámos de sentir os pés, as mãos e a ponta do nariz 5 minutos após a entrada no recinto. Realizado em época primaveril, convidativa a muitas bandas em início das respectivas tournées de Verão, as probabilidades de ocorrência de períodos chuvosos contínuos como o que se fez sentir no Sábado são elevadas, pelo que se justificava que o solo imediatamente em frente ao palco estivesse impermeabilizado, ou, no mínimo, com outras condições de escoamento. Toda a escorrência superficial do recinto confluía para este espaço e rapidamente os nossos pés ficaram assim:

patas-na-poca

Caliqueira de Ferro: Iluminação. A iluminação deficiente de grande parte do recinto, conjugada com o já referido dilúvio, fez aumentar as vezes em que se acertou em cheio em poças de água de grandes profundidades. Os meus tornozelos, sonares de alta precisão nestas ocasiões especiais, registaram poças de água com mais de 7 cm de profundidade. Como referi oportunamente, fizemos a viagem de regresso a Portugal descalços.

Caliqueira de Zinco: Cerveja e Moche espanhóis. Dada a má qualidade sucessiva das colheitas de cevada espanhola, agravada por processos de fermentação “a martelo”, fiquei-me por uma cerveja apenas, que engoli com caretas de sapo. Quanto ao moche, basta dizer que a forma como os espanhois soltam a barbárie desencadeada pela alienação musical se resume à aparência de um bando de gajos momentaneamente vitimados por ataques de epilépsia…

 Tortilha de Ouro: Bad Religion. Ultrajados pelo mau tempo, pela incompetência do locutor do festival em pronunciar inglês correctamente (chamava-lhes de “bád rélizión”) e pela falta de respeito demonstrada pelos testes sonoros da banda que lhes havia de suceder no palco ao lado, o concerto foi arrepiante, do início ao fim. Ainda que o alinhamento das musicas, feito “na hora”, possa indiciar falta de “trabalho de casa”, a fluência natural entre músicas mais antigas em alternância com canções dos novos álbuns, ecoando num êxtase constante junto da plateia, demonstrou uma banda com autoridade e legitimidade suficientes para continuar como uma das grandes referências do punk rock / punk hardcore actual. Quem como eu, os tem como uma das três bandas preferidas, teve um concerto à medida das expectativas geradas.

bad-religion_extremusika09  

Tortilha de Prata: Os 3 do 36 de Berna. Passados cerca de 5 anos, foi bastante porreiro passar um fim-de-semana old school com os meus compinchas de sempre. A boa disposição do costume, a má digestão do costume, a tradicional ingenuidade cómica do Rui Gordo e o pragmatismo extremo do Lince, são a receita para momentos de “puta madre“. No entanto, porque sei que também são fãs de Bad Religion e porque a sua presença também assegura diversão,  outros amigos fizeram falta…

Tortilha de Bronze: Pulseiras do Festival e o “café fantasma” na Villa de Los Barros. Assistir a um festival de lama e escuridão a troco de 75€, em que o único momento digno de registo é o da actuação dos Bad Religion, só pode ter justificação na pulseira a cheirar a bebés entregue à entrada. Passados 3 dias, ainda é de tal forma agradável o aroma a pó talco e fraldas no pulso, que não prevejo tirar a dita fita nos próximos tempos. Por outro lado, um chão dum estabelecimento comercial revestido de cabeças de camarão e cascas de amendoím, como nunca tinha visto, revelam como é uma campanha alegre, a incursão pela Extremadura espanhola.

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De Espanha, nem bom vento, nem bom tempo, nem bons festivais

20/04/2009

Entre uma chuva espessa e incessante, e um mar de lama e poças de água “café com leite”, lá se cumpriu a promessa de assisitir ao tão ansiado concerto dos californianos Bad Religion.

O dia até nem começou mal. Arrancámos até Faro, eu e o Rui Gordo, onde nos esperava o Lince. Chegámos cedo de mais e tivemos de nos entreter a brincar com as cabras da bitch parade da capital algarvia, enquanto o professor do Wall Street Institute despachava a última aula do dia. O Luisinho já estava em Mérida desde Sexta-Feira e por lá nos encontrariamos com ele.

Trouxa arrumada, fome enganada por uma rápida refeição de polímeros no Fórum Algarve e Mérida aqui vão eles… Mal as rodas do bumblebee rolaram sobre território espanhol, fomos contagiados pela habitual maledicência portuguesa: “pela qualidade do alcatrão dá logo para ver que neste país se investe com qualidade”, disse um, “isto aqui é que é, tudo plantadinho, nada ao abandono”, acrescentou outro, “aqui trabalha-se!”, fechou um terceiro o rol de comentários, simultaneamente de desdém à pátria lusitana e de fascínio para com aquela realidade estrangeira que se nos deparava;

À medida que penetravamos naquela terra, e já depois do bumblebee e das carteiras experimentarem o sabor do gasóleo a preços mais baixos, tudo era perfeito. Nem a cara cerrada e macambúzia da empregada de caixa da área de serviço de Trigueros quando automatizou um seco  “buen viaje”, beliscou a ilusão entretanto gerada. Afinal, tinha sido o país daquela senhora de bochechas pendidas a dar-nos a oportunidade de ver finalmente ao vivo uma banda pela qual tinhamos esperado, durante incontável tempo, ver um dia no nosso.

Um céu de nuvens aborregadas deixava-nos na dúvida quanto às condições atmosféricas que iriamos encontrar em Mérida. Os sites consultados nos dias anteriores ditavam previsões pouco animadoras: aguaceiros que se levantariam noite dentro, até que o céu ficasse entregue unicamente às constelações de estrelas.

Pior foi depois da travessia do Túnel de La Media Fanega. ” – Lince, sabes que se atravessares o túnel da Gardunha a pé morres asfixiado quando estiveres mais ou menos a meio?!”, disse o Rui. ” – Oh Gordo…” roncou o Lince. E ao fundo do túnel, contrastando com a luz do seu início, um escuro chuvoso que se abria para a Serra d’Ossa Morena. Extintos os ténues raios de Sol, seguimos pela autoestrada ao ritmo dos acordes do cd “The New Maps of hell”, acompanhados pelo vaivém dos limpa para brisas.

Seguiamos rumo a Norte, descobrindo afinidades entre a Extremadura espanhola e o Alentejo. “- E não se bebe aí um cafézinho?”, perguntei, sentindo a espinha e as pernas dormentes de mais de duas horas seguidas de condução. “- Eu já mijava”… “-E eu também”, concordaram eles com a ideia de pararmos.

Estupefactos pela ausência de áreas de serviço perto da autovia Ruta del Plata, com as bexigas opadas e os pulmões dos camaradas a pedirem carvão, decidimos sair da auto-estrada em direcção a VillaFranca de Los Barros, uma localidade a pouco mais de 40 Km de Mérida.

Depois de percorrermos uns 2 Km sem vivalma, encontrámos, no meio do nada, um desses cafés de beira de estrada, que mais parecia saído de um filme do Tarantino. Lá dentro, duas slot-machine arrumadas à porta, um homem de barriga inchada, de olhos e mãos fixados nas maquinetas. Ao balcão mais 4 ou 5 clientes falando ao mesmo tempo orquestravam uma musicalidade desafinada ao espaço. O chão, coberto de cascas de amendoím e cabeças de camarão, há muito que não conhecia as caricias alternadas da pá e da vassoura. Fizemos o que tinha que ser feito para aliviar as aflições fisiológicas e pedimos 3 cafés ao balcão. O tipo que nos atendeu, falando estranhamente para dentro, como se aspirasse as palavras, mandou-nos seguir em frente, atravessar “el pueblo” e virar à esquerda na próxima rotunda de maneira a recuperar o caminho a Mérida, pela auto-estrada.

Entrámos em Mérida já a luz natural do dia seguia envergonhada, continuava a chover. Duas ou três voltas pela cidade e o local do ExtreMusika 2009 continuava incógnito. “-Temos de perguntar a alguém onde é que isto é”, disse já com pouca paciência para mais carrosséis pela cidade. “-Pergunta aí a um espanhol, Lince”, continuou o Rui, aproveitando-se do domínio do castelhano por parte do nosso camarada.

No regresso ao bumblebee, já com a rota definida pela a ajuda do espanhol de óculos cravados na cara vermelha e sacos do Carrefour nas mãos, senti o pé esquerdo deslizar sobre o passeio, como se de repente, o chão tivesse criado lisga. Bem pior!!! Era merda… Ao aperceber-me exclamei: “Tá bonito e leva jeito, vim a Mérida pisar merda…” “-É sinal de sorte, Edu…” gracejou o Rui…

Com os pés limpos pelas daninhas, fomos então ao nosso destino. Estacionámos e percorremos a pé um longo trajecto até ao recinto. Nas bilheteiras, em frente a um amontoado de tendas que flutuava na lama, encontrámos 2 contentores gigantes convertidos em bilheteiras. Dinheiro na mão, pulso esticado e são-nos cravadas as pulseiras azul bebé, com um doce cheiro que, não destoando da cor, também lembrava bebés. Lembrei-me do António e das expectativas que tinha em conseguir do concerto dos Bad Religion qualquer coisa que valesse a pena um dia contar-lhe.

Com os estômagos a dar horas, avançámos uns metros, guiados pelo cheiro gorduroso a carne rançosa assada. Parámos em frente a uma tabanca enfeitada de réstias de alhos e cebolas penduradas nos cantos, onde um espanhol de sorriso seboso e óculos de fundo de garrafão nos convidava a aproximar dos seus produtos. Comprámos chouriços assados numa chapa encardida dum negro opaco, onde o espesso fumo da confecção se misturava com o vapor causado pela queda das gotas da impertinente e omnipresente chuva. “-Aqui não há ASAE”…balbuciou um de nós, com a boca cheia. 

Largados pelo sorriso seboso do espanhol voltámos ao carro, para novamente voltar ao recinto. “-Se ao menos encontrassemos o Luisinho…” suspirou o Rui, depois de durante a viagem termos constatado que sem serviço de roaming activado, encontrar um português chamado Luisinho no ExtreMusika 2009 era bem mais difícil que encontrar uma agulha espanhola num palheiro de Mérida. À medida que nos encaminhavamos para o palco, o lamaçal era cada vez maior, a chuva cada vez mais impertinente, a iluminação quase inexistente e as expectativas geradas em Portugal cada vez mais enfadonhas.

O concerto de Misfits foi mau, os asturianos WarCry uma vergonha… entretanto já se tinha dado a aparição do Luisinho junto de nós, confiante de que, pouco tempo antes do concerto mais aguardado, estariamos perto do palco a marcar posição.

Foi com uma enorme salva de chuva, poças cada vez mais extensas e lama pelos joelhos que a 21st century digital boy inundou a uma plateia ávida de qualquer coisa que derretesse a gélida desilusão que estava a ser aquele festival.

Máquinas fotográficas em riste, vozes a desafinar em coro, pés a chapinhar no chiqueiro e o momento musical do ano tomava lugar ali, completamente fora daquilo que todos nós tinhamos sequer equacionado como o pior contexto possível no espaço e no tempo.

No final, todos, incluindo Greg Graffin, eram unânimes de que tinha valido a pena passar o cabo das Tormentas para nos deliciarmos com um momento de que poucos fãs da banda sitiados em Portugal se podiam orgulhar.

Terminado o concerto, já sucumbidos aos pés gelados e a mais 3 Kg de roupa encharcada, incapacitados de acampar naquele dilúvio fomos, eu e o Lince, pelo mesmo caminho escuro, atascando pé ante pé junto às barracas de comes e bebes onde os motores das arcas lambiam as poças de água e punks  bêbados jaziam sepultados por copos de cerveja e vinho… O Rui e o Luisinho iriam ter connosco daí a pouco tempo.

Foi já dentro do bumblebee, com roupa seca, embora os pés igualmente gelados, que eu e o Lince considerámos ser mais sensato zarpar de imediato, rumo a Portugal . Eram 1h:00 da manhã, hora portuguesa, às 5h:00 estariamos num aconchego muito melhor em Faro. Mal o Rui chegasse, partiriamos de regresso.

Entretanto o carro do Luisinho atolara no barro e o Rui só voltava daí a uma hora. Fartos de Espanha e da chuva, com o ego empanzinado pelo magnífico concerto, tornavamos a Portugal ao som da Enola Gay dos OMD, repetida duas vezes na Rádio Extremadura e numa outra estação rasca espanhola.

Num “zapping” radiofónico, conseguimos sintonizar a Renascença, e, por momentos, soube-nos bem ouvir falar alguém despido da pronúncia de pipocas quentes a queimar a língua. Sem par de ténis suplente, o lince conduzia descalço, praguejámos a péssima organização do festival, o café espanhol e as condições meteorológicas adversas. Afinal Portugal não era assim tão mau, os nossos festivais eram “bem mais à maneira” e os nossos enchidos muito mais dignos de uma digestão como mandam as regras.

Pelo caminho, para vencer o sono, decidimos contar todas as casas de alterne existentes à beira da estrada. Não contámos sequer uma…

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É hoje!

18/04/2009

Em 2000 fui proibidíssimo pelas autoridades paternais de me deslocar a Paredes de Coura para assistir a uma das poucas aparições dos Bad Religion em solo luso. Contava “apenas” (para os meus pais) com 17 anos, era demasiado longe, não havia companhia que se responsabilizasse, não tinha dinheiro para tantos dias fora, e aí por diante.

Nem a brilhante recta final escolar, com boas notas nos exames nacionais, nem os 2 meses de trabalho num restaurante da terra, demoveram o zelo dos progenitores no sentido de obter, no mínimo, uma precária de 3 dias que me abrisse as portas à banda que ainda idolatro.

Nos anos estudantis passados em Lisboa, tive a oportunidade de assistir a concertos monumentais, de outras tantas bandas que fazem parte do meu ego cultural.  Vivi, juntamente com os meus dois compinchas de casa, na expectativa de que, durante esse período, os Bad Religion voltassem a marcar presença no nosso país. O tempo passou, tal como outros concertos, outras bandas, e Bad Religion nada! Estabelecemos então um pacto entre nós: um dia mais tarde, iriamos estar os três presentes num concerto de Bad Religion, alargando o raio de possibilidades a uma possível actuação por “terras de Cervantes”.

Foram mais de dez anos a reunir esperânça e a compilar toda a discografia (original) de Bad Religion à espera que este dia chegasse. Parto daqui a pouco rumo a Mérida, juntamente com o Rui Gordo e o Lince, para “pagar a promessa” da tríplice, e se possível, sacar umas boas fotos do momento. Com esta iniciativa, espero assim reunir mais qualquer coisa aos cd’s, recortes, bandeiras, t-shirts, de Bad Religion que tenho reunido ao longo dos anos e que já têm herdeiro definido: o António.

Será ainda uma oportunidade única de conhecer e apreciar as paisagens da Zona Centro-Ibérica, da Serra Morena e da Bacia do Guadalquivir, unidades morfológicas onde ainda não pus os pés.

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P.S. As sextas-Feiras à tarde, são reservadas à visita ao António. O puto está sempre bem disposto e irradia simpatia. Ontem havia qualquer coisa que o apoquentava e vi-o, pela primeira vez, chorar como se não houvesse amanhã. Partiu-se-me o coração…