Sabe Deus a aflição que foi. Metido na tarde, na obliquidade da chuva e de uma solidão purgativa que, ao invés de afastar-me do Mundo, me faz comungar da sua significação holística, sem pena e sem papel onde cunhar a sensaboria insossa destes versos, desci do alto da Fóia como um beato num rogatório de procissão, recitando a oração colhida na vessada do ponto mais alto do Algarve, até finalmente lhes ter mão aqui:
Estende-se o vácuo deste Inverno
No comprimento do céu, liso, em voo rasante.
E não há aqui uma só alma que cante
Um verso terno
E triunfante
À chuva pálida da tarde
Pesada, que em chumbo se declina.
Alguém que lhe exorte,
Com pantomina,
O Frio que arde
Num sopro inexorável, sem quadrante, sem Norte.
E se não há já quem louve a Natureza com poemas
À força fecunda desta Terra,
Mãe de Anteu,
Subo ao talefe mais alto desta Serra
E canto-os eu!