Posts Tagged ‘Esperança’

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Esperança

01/03/2013

Pinta os sonhos de verde!
Pinta um quadro de ilusões.
Na terra nenhum sonho perde
A cor das quatro estações.
Agita o leve pincel do ritual.
Maior dom natural
Que a liberdade?
Não é preciso!
Só essa renovada vontade
Pode pintar o irreal
Com a verdade
De um sorriso.

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Erupção emotiva

13/11/2012

Explicava-lhe que não, que todas as hipóteses de existir um vulcão adormecido no cocuruto da Picota eram meras assombrações especulativas, apenas explicadas à luz das formulações teoréticas da imaginação, enquanto deixava uma réstia de positivismo lírico enfrentar a colina de soslaio, a desejar que aquela borbulha geológica rebentasse de uma vez por todas e trouxesse à tona uma nova rocha-mãe, natural, feminina, seca, disponível, de saias subidas, sem espartilhos a apertar-lhe a silhueta, onde pudesse afundar com maior firmeza as raízes da esperança.

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O teatro da Esperança

14/10/2012

Ninguém morre de desespero. Mas perde-se muita vida a desejar feixes de Esperança. É ela o milagre concreto e a seiva do inefável a fluir dentro do instinto de conservação. Mas como encontrar essa sombra sedativa sob os ramos de um país ressequido, com míldio no tutano? Os jornais insinuam desgraças e podridões, as rádios monologam sons de matracas, as televisões mostram apenas vísceras e cadáveres embalsamados. Tudo sintonizado num “morra Sansão e quantos aqui estão!” É o milagre a procrastinar. Nada. Não se vê um estere de tolerância, um borrifozinho de água no deserto intelectual em que vivemos. Que triste chocolateira esta retórica avariada que nos tem conduzido às moradas sociais conhecidas. Em Portugal, é tudo tão teatral, que até a Esperança é obrigada a aguardar as pancadas de Moliére para poder entrar em cena.

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Esperança

17/08/2012

Estava, como eu próprio pareço estar sempre, num inferno de desolações. Pedi-lhe que rodasse as faces ao prisma de modo a perspectivar as coisas de outro ângulo; que não se concentrasse tanto nos sóis por acender, mas, sim, na quantidade de estrelas ateadas na quentura do seu lume; que os sentimentos são geometrias de lados infinitos; que, em horas difíceis como as que vivemos, certos defeitos bons são melhores que as piores virtudes; que o tronco de inquietações em que se encontrava tinha tantos anos quantos tem esta velha Humanidade; que ninguém se pode arrogar postilhão de uma cartilha por procuração da consciência, pois que o caminho da salvação fraterna do Homem se faz por aproximação à sua essência. E quando dei conta, estava a granjear uma esperança oculta que, escassas vezes, tenho tido a coragem de propor a mim mesmo senão em esparsos gemidos prolongados. Evidentemente que, indo ainda a meio da viagem, não tenho melhoras possíveis. Nisto de forjar o ferro da esperança com maço e bigorna de pau, não conto ver o fundo ao saco. Sei bem que não convenço ninguém com jaculatórias desta natureza e que nos trinta argumentos daquela conversa me traí numa traição de Judas. Ainda bem. Gosto de viver os meus dias movido pelas rodas dentadas da dúvida permanente.