Archive for Agosto, 2010

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[H]à tourada

31/08/2010

Um exílio na Natureza em carne viva e, de volta ao aconchego maternal das dobras do xaile da rocha-mãe, isto. Pegas de cernelha à mancheia, apregoadas a cornetim e com cornaduras de varar as entranhas da alma, sempre as houve aqui neste lugar de sienito e xisto tumescidos numa oração sepulcral de penitência aos céus. A mulher do senhor X e o marido da dona Y que desfraldem a ira reprimida nos rubescentes capotes e as contem na primeira pessoa, se quiserem. 

Antes deste tempo de hoje, que sem conhecer os mistérios da puberdade é já um velho, serôdio, lacaio, corcovado sobre si próprio, olhando as unhas dos pés gastos, atafulhados no sarro, Monchique foi o presépio do Mundo, a manjedoura onde o Menino redentor mamou da Mãe o primeiro leite, enrolado na palha renegada do berço e aquecido pelo hálito da vaca no morno sacrifício da existência humana. E quem, seguindo a estrela da miséria, assistia humildemente a este milagre, via uma missa desprovida dos mais sagrados dogmas e rituais, convertido em profeta do mistério da fé na vida harmoniosa entre todos os seres da Terra.

Contou-me há tempos, alguém despido da suspeição dos laços familiares, que um dos meus avôs, que melhor que eu o conheceram os sobreiros e os cálices de aguardente, foi testemunha do milagre, tal qual vem nos Evangelhos. Boi de canga de outros homens como os outros de cornos e mugidos, criador de gado a quem a fortuna só o cobriu de sofrimento, possuía no estábulo o cobridor mais apurado. Não havia na Serra novilho ou vitela que não o tivesse na linhagem.

O resto desta história de honradez e grandiosidade superior, em que os homens da minha terra e o gado bovino se fizeram cúmplices na mesma manada da criação sem o ferrete tolo das pífias lides  de ferro, capotes e bandarilhas, pode ser visto muito brevemente, na minha próxima crónica, no Jornal de Monchique.

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Mark thing: Calvo para sempre

31/08/2010

Fotografia: Parque Atlântico, Ponta Delgada.

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Venho da praia

27/08/2010

Crespo, o Mar. Surdo.

Ensimesmado na solitária imensidão de existir

não sei se sou eu que estou mudo

se é ele que me não quer ouvir.

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A ilha

26/08/2010

Foram cinco dias à bolina. A ilha de pedra com o verde opulento a suar por todos os poros do basalto preto como um céu de breu. De onde em onde as lagoas a entornar água na fervura dos vulcões, cobrindo de pudor o cheiro adocicado de vida que exala da bruma atlântica, levemente salgada, levemente húmida. E nisto, regressa-se à manada humana para presenciar o casamento de dois honrados amigos, um ele mais ela igual a love forever gravado no tronco de um cedro-japonês da Ribeira Grande, unido num sentimento que nenhuma divina providência ousará um dia abalar ou experimentar.

Alando livremente numa jangada de pedra e de vida assim, quando a gente se sente um átomo no meio de uma harmonia destas, o que apetece é deixar correr, deitar-se sopitadamente no chão de enxofre absorvente e deixar-se espezinhar pelas raízes do verde e de quem lá vem.

Fotografia: Lagoa do Fogo, São Miguel, Açores.

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O bufo Bacabu

18/08/2010

Imagem enviada por Rui Barros

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Verdade, verdadinha

16/08/2010

Isto de ter morrido há cento e dez anos e continuar com palavras duradouras, que permanecem intocáveis por estes dias e outros, longos, que lhes seguirão, não tem muito que se lhe diga, não. Tem, sim, muito por onde ler e reler, mesmo para aqueles que, como eu, já lhe descascaram a omnipotência da obra quase toda.

Vergonha, vergonhita é conhecer Eça de Queiroz apenas por aquela sebenta amarela, de lombada preta, que nem digna de catálogo sumulista d’ Os Maias é!

Ainda assim, se corrermos às estantes de trás ou às prateleiras das livrarias e bibliotecas, «ainda o apanhamos!

– Ainda o apanhamos…»

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Have fun, goodfellas

15/08/2010

Fotografia: Monchique

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Poema sobre não sei o quê

12/08/2010

Estás comigo, aqui e em toda a parte

fecundando a vida semeada no cascalho ázimo do sofrimento,

ceifando o joio entre as espigas douradas do pensamento.

E as vergastadas luminosas do teu Sol

cavam-me lanhos tão fundos

que nem tento

erguer a voz mole

num lamento

contemplativo e doloroso.

É tão grande a lonjura do abismo

dos nossos Mundos

que às vezes cismo

a teu despeito,

resignado e contrafeito:

Ao ver-te de cenho sulcado pela mão áspera da agonia

ninguém diria

que trazes ungido a óleo no peito

o teu nome:

Poesia.

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Saber é poder

09/08/2010

Fotografia: As tardes da Júlia, TVI

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Mark thing: uma loja do “nuorte”

06/08/2010

Fotografia: Lagos