«I went to the woods because I wished to live deliberately, to front only the essential facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived.» Henry David Thoureau – Walden, 1884.
Foi uma jornada de 4 dias, com o meu companheirão Rui Barros e o pai, o Maestro António Alves, suando as estopinhas, às topadas com touças de carqueja e urze, arranhados pelo tojo e pelas silvas, embrenhados nos pinhais salpicados por birrentos carvalhos alvarinhos indiferentes à colonização das pinhas e às baforadas da essência de eucalipto. Lá em cima o Caramulo, um altar de chão insuflado rasgando os céus, atapetado por contrastantes pigmentos clorofilinos, sulcado por frescas ribeiras de água infinita e transparente onde pude, pela primeira vez, ver lontras em liberdade.
Aqui e acolá penedos abaulados, alminhas e casas de uma áspera pedra de granito desgastada às sucessões do sincelo e do orvalho. De manhã, à saída para o campo, quatro agoirentas gralhas planavam os céus dando os bons dias à comitiva.
Novo, para mim, foi arrebatar-me por brenhas, matos, calhaus e costumes desconhecidos. É claro que já sabia os meandros de uma vida prática e simples, feita de punhados de nada que sabem a muito, pelos tempos passados na casa da minha avó, hoje majestosamente transformada numa galeria de arte perdida na Serra de Monchique.
O levantamento com recurso ao receptor GPS também não foi o primeiro. Nem o último, certamente. A máquina funcionou na perfeição e não haverá courela ou quinhão de terra por desvendar no registo fundiário da família Barros.
São dias que sabem bem embora o Mundo não pare. E o mal que me faz voltar a casa e aperceber-me disso uns minutos depois…
Fotografias: Serra do Caramulo