Posts Tagged ‘Ciência’

h1

O Pai Natal e os embustes científicos

30/06/2009

Paul Broun, congressista republicano dos EUA, teceu, na passada sexta-feira, afirmações de encantar, pelo menos a todos quantos acreditam no Pai Natal. Paul Krugman, relata as caricatas considerações da seguinte forma: 

«Indeed, if there was a defining moment in Friday’s debate, it was the declaration by Representative Paul Broun of Georgia that climate change is nothing but a “hoax” that has been “perpetrated out of the scientific community.” I’d call this a crazy conspiracy theory, but doing so would actually be unfair to crazy conspiracy theorists. After all, to believe that global warming is a hoax you have to believe in a vast cabal consisting of thousands of scientists — a cabal so powerful that it has managed to create false records on everything from global temperatures to Arctic sea ice».

Incrível como ainda há tropelias autistas semelhantes às de quem ainda acredita no Pai Natal. Diria que o “embuste” perpetrado pela comunidade científica está de tal forma bem engendrado que até a NASA foi metida ao barulho, com estudos tão mentirosos quanto meticulosos. Assim, os videos demonstrando as alterações médias de temperatura à superfície do planeta, nos últimos 100 anos, não são mais que desenhos animados do mais puro entretenimento científico.

Na mesma medida, este mapa com a evolução média da temperatura no Mundo, será, para o congressista Broun, uma bela pintura de Renoir, bem ao estilo rococó. 

Alteração média da temperatura à superfície da Terra, 1951 - 2008

Alteração média da temperatura à superfície da Terra, 1951 - 2008

O gráfico em baixo, talvez seja proveniente dos resultados de um electrocardiograma realizado a alguém com as faculdades de raciocínio intactas, depois de ler ou ouvir a obtusa teoria da conspiração ventilada por Paul Broun, e não as oscilções médias de temperatura às várias latitudes do Globo.

Variação média de temperaturas por zona / latitude

Variação média de temperaturas por zona / latitude

h1

Desertificação e Despovoamento

17/06/2009

No dia Mundial de Luta contra a Desertificação cumpre-me, sem grandes delongas, fazer apenas este apontamento:

Senhores jornalistas, senhores políticos:

Desertificação e Despovoamento, não são nem sinónimos, nem uma e a mesma coisa. São dois fenómenos de natureza física e humana, que se inter-relacionam, nas causas, nas medidas de combate e nas consequências. No entanto, Desertificação é um fenómeno composto por processos de muito maior complexidade e abrangência que o Despovoamento, fenómeno, ainda assim, não menos preocupante.

A degradação dos recursos solo, água e, consequentemente,  da biodiversidade, podem contribuir para o êxodo das populações nos territórios afectados, assim como o abandono populacional das áreas rurais, dadas as mutações abruptas no uso / ocupação do solo e na gestão dos recursos naturais, pode significar maior vulnerabilidade do território à erosão, à seca e aos incêndios florestais.

Apesar da relação evidente, continuam a não ser conceitos semelhantes. Baixar as taxas de IRS e IMI não trava a delapidação do potencial produtivo do solo e a escassez de recursos hídricos. É imperioso ir mais além no combate à Desertificação. E, só com a presença humana nos territórios rurais, guerreando o Despovoamento, será possível alcançar a correcta gestão dos recursos solo e água.

Esta discussão conceptual parece uma preciosidade? Parece. Mas não são os recursos naturais preciosos ao tão famigerado Desenvolvimento Sustentável?

Surripiado no PANCD (Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação - PANCD)

Mapa surripiado no PANCD (Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação - PANCD)

h1

Radiohead a três dimensões

23/05/2009

Os Radiohead continuam a surpreender no processo de criação artística, introduzindo novas sonoridades, novos conceitos e novos horizontes de experimentação às suas músicas e telediscos. Exemplo disso é o video produzido para a música House of Cards, cuja concepção não contempla a utilização de qualquer câmara ou luz.

Nuvens de pontos a três dimensões, obtidas com tecnologia de levantamentos de laser scanner, permitem observar imagens nítidas da silhueta do rosto de Tom Yorke, bem como as formas dos edifícios e da restante paisagem urbana.

A metodologia em causa baseia-se numa tecnologia de detecção remota, chamada LIDAR (Light Detection and Raging) e consiste na recolha automática de informação acerca das formas e distâncias relativas dos objectos alvo dos levantamentos. A sua aplicação tem sido deste modo bastante disseminada junto da Ciência da Informação Geográfica, nomeadamente na consecução de cartografia a três dimensões.

Como se pode ver numa página criada especificamente para explicar o processo de concepção do video, sendo também possível experimentar parte das maravilhas da tecnologia utilizada, tratou-se de um processo relativamente simples, em que os resultados demonstram que o espírito vanguardista e inovador dos Radiohead continua em alta.

Como há maníacos para tudo, houve até quem se tivesse servido dos dados e, trabalhando-os no 3D Analyst do ArcGis, tenha processado a informação de modo a poder visualiza-la no Google Earth, a partir deste ficheiro KML.

h1

Vulcão Shiveluch – Sinais de Fumo do Planeta Terra

15/05/2009

O sensor ASTER, a bordo do satélite Terra, propriedade da NASA, capturou no passado dia 10 de Maio esta espectacular imagem do vulcão Shiveluch, situado na península de Kamachtka, Rússia.

Na imagem, obtida a partir de uma combinação das bandas do visível e infravermelho próximo, o que permite visualiza-la com tonalidades muito próximas das cores naturais dos elementos retratados, é possível observar uma extensa coluna de fumo,empurrada para Norte, com aproximadamente 7 Km de extensão.

O contraste de tonalidades à superfície, entre o branco da neve e castanho escuro das vertentes que compõem o cone do vulcão (o Shiveluch é um estratovulcão), permite descortinar os caminhos preferenciais da lava e das cinzas em erupções antigas.

A cerca de 3 283 metros de altitude, o Shiveluch, é considerado um dos mais violentos vulcões em actividade e, desde de Dezembro de 2008, que é possível registar uma intensa actividade, baseada num aumento da actividade sísmica e lançamento de vapor de água para a atmosfera, acima dos valores normais.

Os fenómenos naturais do Planeta conseguem ser simultaneamente perigosos e belos. Talvez seja por isso que é tão fascinante cá viver.

Imagem: NASA (clique em cima para ver muuuuito melhor))

Imagem: NASA (clique em cima para ver muito, mas muito melhor)

 

h1

We’re nothing else but numbers

14/05/2009

De 7 a 9 de Maio, realizou-se no Estoril, a primeira edição das Conferências do Estoril, consignadas ao tema “Desafios Locais, Respostas Globais“. Nesta iniciativa participaram nomes importantes do panorama político (alguns não tão importantes) e económico mundial, tendo sido possível reflectir e debater sobre as grandes questões encerradas pela Globalização, sobretudo nos tempos difíceis que correm.

Não é todos os dias que podemos ver reunidos no nosso país pensadores como o nosso compatriota António Câmara, Samir Amin , ou Joseph Stiglitz, este último prémio Nobel das Ciências Económicas em 2001. 

A propósito do Professor da Universidade de Columbia, não posso deixar de salientar algumas das coisas que defende enquanto crítico de uma Globalização por vezes injusta, fundada no popular Consenso de Washington, enquanto receita infalível [?] para que as políticas económicas (fundamentalmente) dos países emergentes fossem / sejam bem sucedidas.

Numa época dominada pelo desemprego e, até há bem pouco tempo atrás, pelas libertinas leis de Wall Street, torna-se cada vez mais premente que os receituários impingidos pelo  Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio (OMC), sejam efectivamente voltados para a justiça social e para a auto-estima dos cidadãos. Seria benéfico ao desenvolvimento e à repartição da riqueza, que se abandonasse de vez a ideia tecnocrata de consecução de objectivos, frequentemente enraízados em processos  maquiavélicos, que nada mais fazem que tornar as pessoas em números que permitam quantificar indicadores de sucesso.

Código de Barras: Cartão do Cidadão para as instituições financeiras mundiais

Código de Barras: «O recenseamento comercial é obrigatório!» Esta é a minha identificação aos olhos do FMI e OMC.

Até que uma verdadeira reforma das instituições e do sistema financeiro internacional chegue, sendo todos nós vistos como indivíduos estatísticos e não como seres humanos, com família, auto-estima e sentimentos, sujeitos às imposições do mercado e às políticas económicas recomendadas por entidades externas, já me precavi e aferi o código de barras correspondente à minha personalidade. É uma espécie de B.I. na perspectiva do FMI, OMC e Banco Mundial, principalmente no que respeita à operacionalização das medidas impostas pelos dois primeiros.

Pode ser que assim, numa das Bolsa de Valores espalhadas pelas capitais financeiras mundiais, ou no Fórum Económico Internacional, os seus responsáveis tenham menos pejo em tomar decisões que intensificam casos de pobreza e aumentam desigualdades, num processo de Globalização irreversível, em que grande parte dos afectados nem sequer tem voz.

h1

Estatística ou Tortura? II

10/05/2009

«The test of all knowledge is experiment. The test is the sole judge of scientific truth».

Com o pensamento inundado pela afirmação de Richard Feynman, prémio Nobel da Física em 1965, parti ontem, mais uma vez, rumo a Lagos. O objectivo era submeter a um novo teste a teoria avançada anteriormente, aqui no Terra Ruim, de que sempre que assisto a um jogo do Benfica naquela cidade, o resultado final é, inexoravelmente, negativo para as águias.

Ontem, 9 de Maio de 2009, foi dia de jogo no Estádio da Luz e, estando eu  na cidade de Júlio Dantas à hora do jogo, o empate contra o Trofa em nada me surpreende. O coeficiente de determinação entre o número de idas a Lagos e número de resultados negativos do Benfica encontra-se, ao fim de todas as baterias de testes e experimentações estatísticas desenvolvidas, muito próximo de 1.

Começo a perder a paciência com aquela amaldiçoada estátua risonha do Júlio Dantas e a pensar que o marrão que o meu pai tem guardado na caixa de ferramentas, me poderá vir a ser útil, muito brevemente, aquando de uma deslocação a Lagos em dia de jogo do Benfica. Morra o Dantas, Morra!

Peço desculpa a todos os Benfiquistas pelo buraco em que meti o nosso clube. No entanto, fica a promessa de que os testes e exercícios estatísticos vão prosseguir, sendo que numa próxima deslocação a Lagos em momento de jogo, irei equipado a rigor, qual verdadeiro adepto que acredita que o sucesso do clube depende da idumentária adoptada.

Assim, na próxima oportunidade, visto o fato de macaco (vermelho), máscara de soldar, marrão e rebarbadora nas mãos e por cada golo do adversário, ao invés de cantar «SLB SLB SLB, Glorioso SLB…», gritarei «Basta PUM (som de uma marretada na estátua) Basta!!! Morra o Dantas PIM (nova marretada e cai uma orelha da estátua) Morra!!! Não sobrará um só pedaço de metal “dantesco” a estorvar as exibições do clube da Luz.

DANTAS E DANTAS, DANTAS, DANTAS, DANTAS… E DERROTAS POR CAUSA DO DANTAS – APRE!!!

h1

Meteorologia Doméstica

09/05/2009

Depois dos sapos, o pássaro “cavalinho da chuva”, o amolador de tesouras e as dores reumáticas. Todos eles, segundo a minha mãe, prenúncios de tempo chuvoso.

Na Quinta-Feira tive o prazer de ouvir o musicado piar do pássaro, ontem a minha mãe lastimou o reumático que a apoquenta, e hoje, ao saír de casa, encontrei o amola tesouras rua de São Roque acima, empurrando a bicicleta com um passo pachorrento, ritmado pela melodia desafinada a brotar da gaita. Neste momento já a terra foi polvilhada por uma chuva tímida.

Estive eu 4 anos a calcular pontos de orvalho, valores de humidade relativa, gradientes pseudo-adiabáticos, a interpretar cartas sinópticas, a desenhar termo-pluviométricos, entre outras ferramentas de análise e previsão meteorológica, quando a minha mãe, por muito menos, consegue antecipar-se às previsões do estado de tempo.

Já vale a pena…

h1

A saída da Crise

06/05/2009

Saída da Crise

Fotografia: Monchique, Rua João de Deus

A pergunta escrita na placa de sinalização, assenta que nem uma luva à actual crise económica e financeira e  a todos os que andaram a divertir-se nos mercados bolsistas, enquanto apregoavam de viva voz  a necessidade de “de-inventing the State” (a expressão é do The Economist, 1995). Os mesmos que, agora que a jogatana especuladora deu para o torto, deixando-nos num beco, apelam ao outrora «inútil» e «inapto» Estado, que lhes valha, pela santa saúde, emprego e prosperidade de todos nós.

Será que os ditos gamblers conheciam as saídas dos caminhos para onde levavam a economia mundial? Subscrevo a resposta dada na placa de saída: «LOL», talvez… 

E ainda havia quem dissesse que John Maynard Keynes já tinha dado o que tinha a dar.

h1

Estatística ou Tortura?

04/05/2009

«A Estatística é a arte de torturar os números até que eles se confessem».

A frase é do Professor José Juliano de Carvalho Filho, economista, investigador da Universidade de São Paulo.

Recorrendo a ferramentas estatísticas é possível encontrar uma explicação racional, baseada em relações causais, para os paupérrimos resultados do Benfica esta temporada. Estabeleça-se uma recta de regressão, em que, no eixo das abcissas se encontra o número de vezes que me desloco até Lagos em dia de jogo do Benfica. No eixo das ordenadas, a frequência com que o clube da Luz me brinda com resultados aflitivos.

Cálculados os Coeficientes de Correlação de Pearson e / ou Determinação (R2), não será de estranhar uma forte associação positiva entre o número de vezes que, havendo jogo, visito a cidade de Júlio Dantas e o Benfica consegue um resultado negativo.

A partir da tortura efectuada aos dados provenientes do suplício em que se tornou a campanha encarnada no Campeonato Nacional, concluo:

  1. Basta pum basta! Se o Dantas é do Sportem ou do FóCudePorco eu quero continuar a ser do Benfica. Morra o Dantas, pim!
  2. Quando a cidade de Lagos tem entranhada nas ruas um estranho cheiro a fogareiro apagado depois de uma tarde inteira a assar sardinhas, o Benfica sofre três ou mais golos;
  3. Como não me apetece deixar de ir a Lagos, resta-me esperar que algum dia esta associação termine ou passe a ser negativa. Talvez haja outra ferramenta (tortura) estatística que me sugira conclusões antagónicas àquelas que acabo de mencionar;

Pior que isto, só mesmo quando, nos tempos de Lisboa, via os jogos do Benfica no 36 de Berna, na companhia do meu grande amigo João Lince. Irra que aquilo era demais! Derrota certa, sempre, pelo que um de nós (eu) tinha que ir ver a bola à tasca pastelaria restaurante café gelataria croissanteria cervejaria snack bar Pato Real. E, nem sempre, era garantido que isso resultaria em vitória para as nossas cores.

h1

A caminho da demência

23/04/2009

Um estudo  intitulado “When does age-related cognitive decline begin?”, publicado recentemente na revista Neurobiology of Aging e da autoria de um cientista da Universidade de Virgínia, EUA, sugere que a capacidade mental começa a degenerar-se a partir dos 27 anos de idade, dando-se início ao processo de envelhecimento.

Significa então que tenho pouco mais que 8 meses para desenvolver uma qualquer Teoria Revolucionária, que me garanta o intocável estatuto de génio durante o longo período de demência que aí vem…