Posts Tagged ‘Geografia’

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GPS emotivo

12/12/2012

Disse-me hoje uma pessoa amiga, quando me viu de receptor GPS nas mãos, a descarnar as ossadas ao ofício:
– Você, com essa maquineta nas mãos, faz maravilhas! Não se perde nem deixa que ninguém se perca!
Espantosamente, mal sabia ela que, apesar da minha investidura académica no ofício de Estrabão, não obstante as modernas virtudes requintadas dos aparelhómetros, tenho passado a vida inteira à procura dos pares exactos de coordenadas que me levem à acuidade afectiva de um semelhante, de um amigo, de Deus, e sinto-me sempre desnorteado, a perder o rumo, numa trágica desorientação.
E se eu lhe tivesse respondido isto, saberia ela georreferenciar-me em terra firme, fora do mar picado da incompreensão?

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Dia do geógrafo

29/05/2012

Ninguém sabe para o que nasce, bem diz o povo. Mas ainda que uma parte de mim se negue a admiti-lo, no meio do redil de falências e desilusões atormentadas em que, voluntariamente, me vou aniquilando, foi bonita e certeira a escolha de seguir o ofício de Eratóstenes e Estrabão. É a fazer o levantamento das coordenadas humanas que palpitam noutros corações que eu tento calibrar as minhas. Quero deixar cartografadas todas as horas no atlas provisório da vida.

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Horas aristocratas

22/04/2012

Os extremos tocaram-se, durante a manhã de hoje, enquanto pedalava como que para vencer a corrida apressada do destino, sobre montículos de toupeiras gigantes de uma paisagem alentejana no sopé das minhas serras nativas. A Natureza numa paz primaveril, consoladora e alada. Uma harmonia sacramental, doce e escarolada, toda florida em promessas, em confrontação com a trajectória titubeante do meu velho problema de sofrimento humano, todo estilhaçado, todo amargo, todo rude, fechado à largura de certos horizontes. Duas intransigências contumazes, unas e inflexíveis, cúmplices nos mesmos silêncios, conciliadas no afã dos mesmos deslumbramentos. Mas, feitas as contas, no pólo negativo, estou em desvantagem. E ainda bem. Hei-de ficar a dever eternamente à travessia do húmus pátrio o sabor aristocrático das minhas melhores horas.

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The Geospatialman

29/10/2009

Da  invocação desesperada por heróis, quando os deuses e os santos pouco nos valem, o Geospatialman surge como a mais recente criação mistificadora das mentes pouco dadas à orientação geográfica. Nunca se sabe por que impérvios caminhos deambula este herói. Conhece-se apenas a sua capacidade metafísica em adivinhar a nossa localização, onde quer que estejamos.

Não é segredo para os cobardes, mas fugir é tarefa sempre inútil. É impossível passarmos eternamente despercebidos em esconderijos e cafuas. E, há sempre uma pista que dá o nosso rasto a farejar . Ponha à prova o Super-herói da Geografia, ele sabe rigorosamente onde é que você  está no  preciso momento em que mastiga estas palavras.

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Imagem: UC Santa Barbara, Department of Geography

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Sanitão… e os 4 R’s: Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Rebentar

27/04/2009

(Este post surge com alguns dias de atraso, uma vez que se adequa perfeitamente ao Dia da Terra, assinalado no passado dia 22 de Abril.)

As campanhas de sensibilização ambiental têm sido uma das mais importantes ferramentas ao serviço do paradigma do Desenvolvimento Sustentável, tendo para o efeito,  sido adoptados verdadeiros chavões, com o objectivo de alterar comportamentos consumistas e sobremaneira entrópicos.

Na minha rua, por exemplo, está-se na vanguarda da política dos 4 R’s e hoje, quase toda a gente tem já entranhado no ADN ambiental a necessidade de:

1 – Reduzir;

2 – Reutilizar;

3 – Reciclar;

4 – Rebentar com tudo o que é sanita e autoclismo. Agora, junto ao contentor do  lixo,  a vizinhança dispõe de um Sanitão.

O Sanitão é um espaço dedicado a acolher autoclismos e sanitas velhas, demasiado frágeis ao excessivo peso dos utilizadores, ou rachadas por uma diarreia explosiva, ou ainda arrancadas por um súbito e fulminante enjoo, mal-estar ou ressaca, que nos levam a agarrar a este útil artefacto  enquanto auxílio ao esforço de arremesso bocal de conteúdos gástricos, que se distinguem pela frequente tonalidade amarelo-esverdeada.

Depois do vidrão, do papelão, do pilhão e de outros utensílios sabiamente concebidos para a reciclagem de resíduos domésticos acabados no ditongo “ão“, o Sanitão é também uma realidade, permitindo que um artefacto normalmente destinado à higiene doméstica e ao escoamento de restos de sopa azeda, seja agora, enquanto conjunto, um exemplo emblemático da luta pela qualidade ambiental e promoção da saúde pública na minha rua.

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Flop telúrico

13/04/2009

Um dos responsáveis pela minha iniciação na blogoesfera, publicou no seu blogue uma das notícias que mais discussões deve ter desencadeado na comunidade científica ligada à investigação de Riscos Naturais.

Quando recebi, da mailing list do grupo Geografia.pt, um e-mail com a referida notícia, confesso que fiquei desconfiado. No último ano da licenciatura, num exame da cadeira de Avaliação de Riscos Ambientais, respondi a uma pergunta sobre a previsibilidade dos sismos, com um texto “simulando” uma noticia publicada no ano de 2094. 

“O Regresso ao Futuro” baseava-se na monitorização dos índices de libertação de gás rádon junto a escarpas de falha e na análise comparativa dos efeitos da catástrofe, no Sul da Europa e Norte de África, de um sismo de grande magnitude com epicentro no Mar Mediterrâneo . A professora até gostou do exercício de ficção, (confesso que foi um risco ter respondido assim), e eis que, passados uns anos, julguei que Giampaolo Giuliani tinha, das duas, três:

1- Surpreendentemente conseguido antecipar, em 85 anos, toda a panóplia de tecnologia e procedimentos cientificos que só julguei possíveis para o ano de 2094;

2- Roubado o meu exame de Avaliação de Riscos Ambientais, tendo eoncontrado na dita resposta a sustentação científica que lhe valia o bilhete para o seu momento de glória.

Depois de uma pequena análise e investigação, cheguei à conclusão que se tratou apenas de uma coincidência inconsistente e que, apesar da tentativa, ainda há bastante a fazer no sentido de se conseguir prever a data, hora exacta, local e magnitude de um Fenómeno Natural do género, como se pode ver na troca de comentários mantida com o meu amigo Jorge Sampaio (não, não é o ex-Presidente, mas é parecido…é que ele também é do Sportem).