Regresso comovido a casa, depois da jornada Caribenha. E nunca pensei que, passados sete dias a ouvir um idioma em que a língua parece uma castanha quente a estalar nas paredes da boca, me aliviasse tanto o desespero em que vinha aturdido situar-me novamente nas fronteiras do Português materno. Foi como se viesse surdo e um Cristo de camisa aberta no peito e crucifixo dourado a bailar no pescoço me sussurrasse, dedilhando a guitarra:
– Efratá. – E os ouvidos se me abrissem a um fado inspirado nuns versos de Camões.
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Lisboa, 29 de Maio de 2013
06/06/2013De Lisboa até à Lua
18/04/2013A reter panoramas retentivos no Miradouro da Graça, a desfiar as barbas da História na paz branda do Tejo, em Belém, a deixar o relógio desandar em horas devolutas à sombra luminosa do jardim da Gulbenkian, ou, simplesmente, a receber calhamaços de instrução no auditório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, uma visita a Lisboa, para mim, é sempre uma correcção magnética à inexorável declinação dos rumos provincianos que vou desenhando na pátria. Vou e volto, e quando me perguntam de onde venho, apenas me apetece responder:
– Da Lua.
Lisboa
10/03/2012Foi sempre generosa para com as minhas misérias, esta Lisboa da minha alma. Postiça a todos os níveis, cinemática e maquinal, o irredutível temor de perdição com que outrora a encarei a palpitar nos braços do Tejo é hoje um amor silencioso, terno, infindo de devoção e de desejo. A mesma voz áspera que me rechaçava nas primeiras vezes, acolhe-me agora num canto eufónico de sereia. Talvez porque é esta a cidade credora dos meus melhores dias. Mas tudo muda. O tempo tenho-o eu perdido sempre, nunca foi este o meu lugar, nem sou homem de me conceder a doçura insinuada nos sussurros microscópicos da voz que em mim se ouve. Seja qual for o aceno ilusório da fantasia, todo o pudor, todo o transe, quando a sintonização com aquilo que é entranhadamente meu o permite, são uma reação sacramental de recatamento e de liberdade.
Belém
29/11/2011Nas margens largas do passado
Em águas paradas encalhado
Flutua o cais humano português.
Lá, soltam-se as velas de Lisboa,
Ergue-se da terra a proa
E é o sonho que navega outra vez.
Enfunada pela brisa do atrevimento
A voz do velho, de má rês,
Dá mais força e viço ao vento.
Partimos, então, na caravela da eternidade,
Dobramos o cabo da saudade
Sulcando nas ondas um rego fundo.
Rasgamos o mar a todo o pano,
Fazemos da Língua oceano,
Damos azul à cor do Mundo.
E por cada verso aberto em espuma
É à descoberta da Esperança que a vida ruma.