O mar. Um Portugal com fronteiras de ócio fora do tempo e fora do espaço. O denominador comum de dez milhões de amarguras fraccionadas estendidas sob a sombra de horas indulgentes. O país inteiro como um taipal de pedra basculado a um Atlântico de futilidades, onde até eu, que as renuncio em absoluto, gosto, às vezes, de me inserir para poder sentir-me tão português, tão alodial e tão sonâmbulo como os outros. O mar. A razão contemplativa da nossa opulência histórica medida pelas incertezas desmesuradas de um futuro panorâmico que deixa de ser um suplício contrito de resignação para passar a ser um exercício infinito da imaginação.
Mar! Mar! Mar!
Nenhuma outra palavra me completa.
Nenhuma outra me faz navegar
Nos horizontes infinitos de poeta.
Mar! Mar! Mar!
E de repente, à tona da inspiração,
Vem uma maré cheia de temas.
E o vaivém das ondas é uma rebentação
Onde se ouve a frescura dos poemas.
Mar! Mar! Mar!
E o panorama de versos não cessa,
Até o sol cansado finalmente pousar
No fundo azul onde o lirismo recomeça.